Uma situação de crise a vários níveis: político (“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra”); crise de valores morais (“Ninguém sabe que coisa quer,/ (...) nem o que é mal, nem o que é bem”); crise de identidade ("ninguém conhece que alma tem"). A situação é, portanto, de incerteza e de indefinição. "Ó Portugal, hoje és nevoeiro... ", conclui o sujeito poético. No entanto, e apesar desta constatação, não deixa de lançar o desafio: "É a hora! "
sábado, 15 de janeiro de 2022
Manual do Aldrabão
"O votismo e o parlamentarismo são,em Portugal pelo menos,os agentes mais destrutivos de toda a competência administrativa. Desde 1836 até hoje,toda a história do liberalismo português subsequente à ditadura filosófica de Mousinho da Silveira é a flagrante demonstração da nossa incapacidade governativa dentro de um regime parlamentar.Dessa estagnação do pensamento nacional na esfera governativa nasceu a progressiva corrupção dos caracteres poluídos e dos costumes progressivamente rebaixados,dando em resultado final a podridão profunda em que nos afundamos." ----------------------------------------------------------
Ramalho Ortigão in As Farpas na República de 1911 -----------------------
Actualização dia 30-01 https://grandefantochada.blogspot.com/2022/01/dia-de-reflexao.html
sábado, 8 de janeiro de 2022
Sondagens Canhotas e Petições de Esquerda
Sondagem antes das eleições autárquicas que o sr Moedas viria a ganhar.(clicar na imagem)
Cartas de amor de uma esquerda portuguesa
A 2 de Janeiro, 31 “personalidades de esquerda” rogaram por petição “o entendimento das forças de centro-esquerda e esquerda, visando constituir uma maioria parlamentar e um Governo [maiúscula deles] que tenha como propósito a aplicação de medidas indispensáveis para a melhoria do bem-estar da população”. No dia 4, foram 100 as “personalidades de esquerda” a reclamar “uma maioria plural de esquerda” nas eleições, visto que, “seja qual for o futuro, só essa pluralidade pode construir o diálogo, a alternativa e a resistência”. Escrevo a 7, e estranho que ontem 350 “personalidades de esquerda” não tenham produzido apelo similar. Mas antes do final do mês é plausível que milhares de “personalidades de esquerda” se juntem em dúzias de peditórios. À esquerda não faltam “personalidades”: falta noção do ridículo e falta vergonha.Depois vem a soberba. Conforme a designação indica, as “personalidades” não são quaisquer palermas: são palermas que se julgam ungidos de um estatuto especial, atribuído pela política, a universidade (digamos), o cançonetismo, o “jornalismo” ou as “artes”. Aqui não se encontram cantoneiros, operadores de “telemarketing” ou despachantes, ofícios “normais” que não habilitam o titular a orientar-se sozinho e muito menos a influenciar o próximo. As massas brutas carecem de orientação. Por sorte, acima delas paira uma elite esclarecida generosamente disponível para orientá-las através do exemplo. Se a sra. dona Pilar del Rio, cuja sabedoria é infinita, vota em marxistas, não cabe na cabeça de ninguém que o Zé Luís, bancário na Trofa, arrisque fazer diferente. E se o sr. Abrunhosa, que comete uns discos, deseja que os marxistas preencham por completo o parlamento, seria absurdo que a Isabel de Sousa, pasteleira em Ourém, discordasse. Igualdade sim, mas com limites.
Por cá, os comediantes profissionais, em geral de esquerda, em geral possuem a graça de uma torradeira avariada. Em compensação, os comediantes acidentais são genuinamente engraçados. A lengalenga dos 100 chega a referir a necessidade de “alternativa” e de “resistência”. Alternativa a quê, santo Deus? Resistência a quê, virgem santíssima? Esta tropa fandanga é a pura representação do “sistema”, naquilo que o “sistema” tem de mais bolorento e daninho. Gostem ou não (gostam, gostam), em larga medida eles são o poder, que miseravelmente ocupam desde 2015 e espantosamente acumulam com a devoção infantil, e algo macabra, do Maio de 1968, dos barbudos cubanos ou dos próprios sovietes. Ainda que usufruam de privilégios vedados a uns 98% dos restantes portugueses, mantêm o imaginário da “luta” com a extraordinária convicção de um vegetariano que vai na segunda dose de cabrito.
Do alto da alucinação e do grotesco, da presunção e da pompa, estas petições e peticionários têm genuína piada. Só perdemos a vontade de rir quando, sob o humor involuntário, nos lembramos de que a influência e as intenções desses bandos são os maiores sintomas do nosso imenso atraso de vida.
08 jan 2022, Alberto Gonçalves no Observador
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